COMO A BÍBLIA CHEGOU ATÉ NÓS
Jefferson Magno
Costa
Profeta, legislador, senhor de servos e dono de
rebanhos, ou simplesmente pastor de ovelhas, o primeiro homem que traçou as
primeiras palavras do primeiro livro da Bíblia não dispunha de muitos recursos
materiais para a execução do seu trabalho literário.
Antes dele,
e há milhares de anos, os primeiros descendentes de Adão e Eva vinham
utilizando a face lisa das rochas para desenhar animais, figuras humanas e
símbolos ritualísticos, ou para contar a história de guerras, de epidemias, de
enchentes, de fartura e de paz.
Porém, certamente o primeiro homem que recebeu
do Altíssimo inspiração para escrever o texto que iniciou o registro da
Revelação divina à humanidade – a Bíblia –, não fez uso da pedra para dar forma
escrita à Mensagem do Senhor. Curiosamente, esse método de registro de palavras
em pedra foi certa vez utilizado pelo profeta Isaías (Isaías 8.1), quando Deus
mandou que o profeta tomasse “uma ardósia grande”, e escrevesse sobre ela (na
edição Almeida Revista e Atualizada. Na edição Almeida Revista e
Corrigida, a expressão usada é “toma um grande volume”).
No Dicionário
Houaiss, a palavra “ardósia” é definida como “rocha metamórfica compacta, de
granulação fina e cor cinza”, também usada como lousa, ou quadro.
Moisés, ao escrever os livros que compõem o
Pentateuco, não fez uso da escrita cuneiforme (em forma de cunha), nem das
tabuinhas de argila, ou tijolinhos, utilizados como instrumentos de escrita na
civilização babilônica.
Porém, o
profeta Ezequiel usou certa vez essa superfície física para gravar a figura da
cidade de Jerusalém (Ezequiel 4.1). Quem fez uso da pedra para registrar seus
mandamentos foi o próprio Senhor, ao preparar e entregar a Moisés as tábuas de
pedra contendo a lei e os demais preceitos divinos (Êxodo 24.12).
A "CANETA" E O "CADERNO" DE
MOISÉS
Porém, tudo
o mais que Moisés escreveu (Êxodo 24.4), ele o fez utilizando rolos de papiro e
uma cana de junco, conhecida como pluma, que variava de 15 a 40 centímetros de
comprimento (Vide Josh McDowell.Evidencia que exige
um veredicto(trad. espanhola). Editorial Vida. Miami, FLA, 1982, p.30. Há uma
tradução portuguesa deste livro pela Editora Candeia).
Sua extremidade era cortada em forma de cinzel
(“instrumento manual que tem numa extremidade uma lâmina de metal resistente
muito aguçada”, Houaiss), e isto permitia fazer-se inscrições grossas ou finas.
Uma análise minuciosa da tinta utilizada nos
papiros mostrou que esta era um composto de carvão, goma e água, ao que
acrescentavam um ácido, para torná-la perdurável.
Crescendo abundantemente nos lugares pouco
profundos dos lagos e rios do Egito e da Mesopotâmia, o papiro era uma planta
em forma de cana, cuja medula era cortada em tiras, e essas eram unidas em
ângulo reto umas com as outras, em seguida prensadas e colocadas para secar.
Depois de prensadas, as tiras formavam uma
espécie de papel áspero, posteriormente suavizado pelo atrito de uma pedra
lisa. Em seguida, várias dessas folhas de papiro eram unidas umas às outras,
formando rolos que mediam até dez metros de comprimento. (Foi descoberto um
rolo que media nada menos que 48 metros! – Carlos W. Turner. El Libro Desconocido. Librerie La Aurora. Buenos Aires,
1943, p. 12. Vide também Josh McDowell, op. cit.).
CONFIRMADO: MOISÉS ESCREVEU O PENTATEUCO
Já que estamos fazendo referências a Moisés em
sua qualidade de escritor sagrado, é oportuno lembrar aqui que o grande
legislador hebreu certa vez foi motivo de uma grande polêmica ocorrida entre os
detratores da Bíblia e vários especialistas no Antigo Testamento.
Baseados em alguns documentos antigos, os
representantes da chamada “alta crítica” da Bíblia afirmaram que Moisés não
poderia ter escrito o Pentateuco, pois no seu tempo a escrita ainda era
desconhecida.
Consequentemente, o Pentateuco teria sido
escrito por um autor mais recente.
Mas essa afirmação desmoronou por
completo quando alguns arqueólogos, que faziam escavações próximo às ruínas de
Babilônia, descobriram o “código negro”, as famosas Leis de Hamurabi.
Era um
grande bloco de pedra negra, com leis babilônicas escritas em caracteres
cuneiformes, vários séculos mais antigo do que os escritos de Moisés, sendo,
inclusive, anterior ao próprio Abraão.
Portanto, a humanidade já vinha utilizando-se
da escrita desde períodos muito mais remotos do que se pensava.
Não fosse o zelo e a inesgotável paciência dos
copistas que preparavam o maior número possível de cópias dos originais do
Antigo Testamento, hoje praticamente quase todos os seus livros estariam
perdidos, pois os papiros eram frágeis, e se desgastavam depois de um certo
tempo, sobretudo quando expostos à umidade.
Haja vista que os manuscritos descobertos em 1947 nas
cavernas de Qumran, próximas ao Mar Morto, só permaneceram intactos por terem
sido escritos sobre pergaminho, e guardados dentro de cilindros de barro em uma
região de clima seco.
A fragilidade do papiro levou os homens a
procurarem outro material mais resistente, e assim o papiro foi substituído
pelo pergaminho – a pele de ovelhas e de outros animais. Depois de ser
submetidas a uma rigorosa raspagem, as peles eram esticadas ao sol.
Além de ser mais durável, o pergaminho
mostrou-se um material muito mais prático e cômodo, tanto para a formação de
rolos como para a escrita em si, e continuou sendo utilizado por todo o mundo
antigo, até Gutenberg inventar a imprensa, no final do século XV.
O TRABALHO EXTRAORDINÁRIO DOS MASSORETAS
Na luta
contra o desgaste e o desaparecimento dos manuscritos sagrados destacaram-se,
entre todos os que se dedicaram à preservação da Palavra de Deus, um grupo de
sábios judeus, os massoretas. O pesquisador Diego Arenhoevel (Assim se formou a Bíblia. Edições Paulinas. São Paulo, 1978.
p. 34) afirma que os massoretas “contavam os versículos, as palavras e mesmo as
letras de cada livro, para garantir que, durante a atividade de preparação das
cópias, não se perdesse nenhuma letra que fosse.”
Extremamente zelosos com o que faziam, os
massoretas, antes de começarem suas atividades, purificavam-se, vestiam roupas
especiais, e todas as vezes que iam escrever o nome de Deus, utilizavam outro
instrumento de escrita especialmente reservado para isto. Entre eles havia uma
recomendação:
“Quando você estiver no trabalho de
copista e for copiar o nome de Deus, não se distraia com nada. Se alguém nesse
momento lhe dirigir a palavra, não pare para atender a essa pessoa, mesmo que
ela seja o próprio rei, e isto lhe custe o risco de ser decapitado. Não desvie
sua atenção, pois você está escrevendo o Nome que está acima de todo nome.”
Graças a esses homens que se dedicaram,
com piedade e zelo, a copiar fidedignamente o texto sagrado, hoje tem sido
possível constatar-se a fidelidade do texto bíblico atual em relação aos mais
antigos manuscritos.
OUTRAS IMPORTANTES DESCOBERTAS
Além
da grande descoberta dos manuscritos do Mar Morto, houve também outras
igualmente importantes, tanto no campo da arqueologia quanto no da filologia.
Quando a Pedra de Roseta foi decifrada
pelo sábio francês François Champollion (a pedra foi encontrada no delta do
Nilo, próximo à Alexandria, por Napoleão Bonaparte e sua comitiva de sábios, e
estava recoberta de registros hieroglíficos – sinais que os egípcios usavam
como escrita), e quando outros filólogos conseguiram decifrar a escrita
cuneiforme, tornou-se possível ler os antigos registros do Egito, da Babilônia,
da Assíria e da Pérsia.
Então, diante de historiadores e
sábios, a veracidade e o fundamento histórico, religioso e literário do Antigo
Testamento foram indiscutivelmente comprovados.
Certa vez um jovem seminarista alemão,
estudioso do Novo Testamento, estava examinando antigos documentos papíricos em
grego (cartas, contratos, arrependimentos, convites, registros, notícias e
bilhetes privados), escritos por pessoas que viveram no tempo em que o Novo
Testamento foi escrito.
Pouco a pouco, ele começou a ficar
admirado com a semelhança do grego daqueles documentos (simples, familiar,
utilizado no dia-a-dia) com o grego que o apóstolo Paulo havia usado para
escrever suas cartas.
Aquela descoberta vinha resolver um
problema há muito insolúvel – por que o Novo Testamento havia sido escrito em
uma linguagem não-clássica, não-literária, em grego koinê, popular? A descoberta do seminarista Adolf Deisman no convento de
Santa Catarina do Monte Sinai comprovou que aquilo havia sido uma providência
de Deus para que o Evangelho atingisse rapidamente as camadas populares daquela
época, e a verdade fosse guardada no coração e na mente do povo.
A Revelação de Deus alcançou em pouco
tempo a todos, graças à linguagem maravilhosa e simples em que foi escrita.
O próprio apóstolo Paulo, no
primeiro capítulo da 1ª Carta aos Coríntios, desconsiderou o estilo literário,
e isto lhe custou severas censuras da parte dos crentes de Corinto, que
criticaram sua maneira rude de usar o grego (2 Coríntios 11.6). Porém, os
papiros encontrados pelos arqueólogos têm confirmado que o apóstolo, ao
escrever suas cartas, na grandeza de sua simplicidade, não fez uso de um estilo
retórico, e até fugiu de palavras rebuscadas.
Agindo assim, ele construiu o maior
monumento teológico-literário a serviço da grandiosa e simples mensagem de
Jesus Cristo, o Senhor da Verdade e da Simplicidade